terça-feira, 13 de julho de 2010

Vazamentos de petróleo afetam a Nigéria há cinco décadas



Grandes vazamentos de petróleo não são mais novidade nesta vasta terra tropical. Segundo estimativas, faz 50 anos que o delta do rio Níger, onde a riqueza subterrânea é desproporcional à pobreza da superfície, tolera, todo ano, o equivalente ao vazamento do Valdes Exxon. Quase toda semana ocorre vazamento e alguns pântanos estão sem vida há muito tempo.

Talvez nenhum lugar do planeta tenha sido tão destruído pelo petróleo, alegam os especialistas, deixando os moradores surpresos com a atenção incessante dada ao vazamento no Golfo do México, a meio mundo de distância. Há algumas semanas, segundo eles, uma tubulação da Royal Dutch Shell, que estava estourada em um manguezal, foi finalmente fechada depois de dois meses de vazamento: agora, nenhum ser vivo se mexe mais nesse mundo preto e marrom, que já foi uma vez cheio de camarões e caranguejos.

Não muito longe dali, no afluente Gio Creek, ainda há manchas pretas provenientes de um vazamento que ocorreu em abril, e, logo na divisa do estado, em Akwa Ibom, os pescadores se aborrecem com suas redes manchadas de óleo, duplamente inúteis em um mar estéril, destruídas por um vazamento de uma tubulação costeira da Exxon Mobil, que durou semanas.

O óleo sai de tubulações enferrujadas e velhas, ignoradas, segundo os analistas, por uma regulamentação ineficiente ou conivente, e auxiliadas pela manutenção precária e sabotagem.

Apesar dessa maré negra, os protestos são raros – no mês passado, os soldados que cuidam da instalação da Exxon Mobil agrediram as mulheres que estavam protestando no local –, mas há muito ressentimento.

Aqui, os vazamentos são mais devastadores porque esta região, úmida e ecologicamente sensível, fonte de 10% do petróleo importado pelos EUA, concentra a maior parte dos manguezais da África e, assim como a costa da Louisiana, alimentou, por gerações, o interior com sua abundância de peixes, mariscos, fauna e flora e colheitas.

Ambientalistas locais vêm denunciando a destruição há anos, mas nada é feito.

“O ambiente está morto”, disse Patrick Naagbanton, do Centro para o Meio Ambiente, Direitos Humanos e Desenvolvimento em Port Harcourt, a principal cidade da região de exploração de petróleo.

Embora muita coisa tenha sido destruída aqui, ainda restam muitas áreas verdes vibrantes. Os ambientalistas alegam que com uma intensa restauração, o Delta do Níger ainda pode voltar a ser como era antes.

Só no ano passado, a Nigéria produziu mais de 2 milhões de barris de petróleo por dia, e, em mais de 50 anos, milhares de quilômetros de oleodutos foram colocados nos pântanos. A Shell, a principal personagem, opera em milhares de quilômetros quadrados no território, segundo a Anistia Internacional. Conhecidas como árvores de Natal, as colunas envelhecidas de válvulas de poços de petróleo aparecem, inacreditavelmente, em clareiras entre as palmeiras. Às vezes sai óleo delas, mesmo os poços estando desativados.

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